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Cartas a um jovem escritor jurídico – Parte 1: Se você quer ser o guitarrista do Iron Maiden
Henderson Fürst
07/10/2015
Se você quer ser o guitarrista do Iron Maiden[1]
Meu caro Leonard[2],
Suas perguntas me fizeram refletir bastante, e só agora posso responder adequadamente, pois não é a primeira vez que jovens autores jurídicos me questionam o mesmo: qual o segredo para ser um autor jurídico de sucesso?
A primeira coisa que você precisa se responder é: o que é sucesso para você? Essa resposta é a chave de todas as coisas para a carreira de um autor – jurídico ou não. Há escritores que são lidos por menos de vinte bons leitores, e consideram ter sucesso – e entendem por um “bom leitor” aquele que irá ler seu livro ou o texto de capa a capa, que irá questionar seus pressupostos e metodologia, que entende a profundidade e a originalidade de sua análise, e o citará adequadamente em seus trabalhos. Há quem julgue que sucesso como autor é a leitura por importantes leitores – outros autores expressivos e referenciais da área, professores titulares, ministros dos tribunais superiores ou profissionais jurídicos expressivos (para não usar a velha alcunha de “operadores do direito”). E há autores que consideram que sucesso é ser lido por centenas ou milhares de leitores, formar o conhecimento de uma ou duas gerações inteiras em sua área. E, acredite-me, para cada opção haverá uma editora e um editor apropriados para caminhar conjuntamente.
Responder a essa pergunta implica o tipo de autor que você quer ser. E para cada forma de sucesso há um caminho específico, uma estratégia, um desafio especial a se enfrentar. De todo modo, não há um caminho fácil ou preparado – faz-se o caminho ao caminhar.[3]Qual a energia e o tempo de vida que você está disposto a empregar? Ou melhor, você quer mesmo escrever?
Considere que escrever não é um ato propriamente natural. Pensa-se antes, faz-se rascunhos, corrige-se inúmeras vezes e é inevitável o cansaço físico dessa atividade mental. Muitas horas são dedicadas para uma única página ser escrita, e poucos segundos para jogá-la fora. E, como se trata de um texto técnico, as vezes esse mesmo tempo serve apenas para uma única nota de rodapé que sequer será lida, mas que esconde em si o segredo de toda a metodologia empregada na construção de seu raciocínio – e nem consideraremos aqui o tempo de formação, leitura e reflexão para escrever o que quer que você esteja escrevendo (ainda que alguns textos parecem gritar o contrário disso!).
Segundamente, por que você quer escrever? Pelo glamour de materializar ego em papel e tinta alinhavados? Pelo fetiche de vencer a finitude humana? Pelo ideal de construir a ciência que nos coube? Para potencializar qualquer outra carreira que tenha?
Você precisa saber porque escreve. Se não souber, você estará gastando o seu tempo, o do leitor e o de todas as pessoas envolvidas nessa publicação.
Veja quantos textos tautológicos temos no direito. Rodeiam em torno das mesmas ideias e se repetem infinitamente, quase como tentando tornar verdade um pensamento. Ou então quantas pesquisas tateiam a ciência jurídica, as normas e seus suportes fáticos, mas o que dizem é mera ignorância informada.
Assim, sei o espanto que causa ver o quanto se publica em Direito hoje, mas também sei a dificuldade que é encontrar textos que façam compreender um pouco mais o Direito. Para cada perfil de público leitor, sempre haverá espaço para bons autores.
Espero que essa breve mensagem repercuta em seus projetos. Falaremos em breve sobre o que alguns importantes doutrinadores de nosso tempo me ensinaram sobre o que os tornaram lidos!
Um forte abraço, das muretas sagradas da PUC-SP às praias catarinenses,
[2] Leonard Schmitz é Doutorando e Mestre em Direito pela PUC-SP. Essa série de mensagens foi trocada por ocasião de sua defesa de mestrado há um ano e, sua publicação, autorizada pelo destinatário.
[…] Caminante, son tus huellas el camino, y nada más; caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace camino, y al volver la vista atras se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante, no hay camino, sino estelas en la mar. […] | […] Caminhante, são tuas pegadas caminho e nada mais; caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar Ao andar se faz caminho e ao voltar a vista atrás se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar Caminhante não há caminho senão marcas no mar. […] |
MACHADO, Antonio. Selected poems. Tradução de Alan Trueblood. Cambridge: Harvard University Press, 2003, p. 142.
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