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PORTUGUÊS JURÍDICO

O poder de sedução do “e” e do “que”

ADITIVO

ADVERSATIVO

ALTERNATIVO

COMPARATIVO

CONCESSIVO

CONCLUSIVO

CONCTAR

CONCTIVOS

CONDICIONAL

E

O QUE

PORTUGUÊS

QUE

Luciane Sartori

Luciane Sartori

24/08/2015

anglerfish

Como sabemos,  é preciso estar conectado, mas também sabemos que isso não basta, temos mesmo é de   estar “bem” conectados.  Dessa forma, saber como e com o que conectar é importante.

Nossa língua oferece muitos mecanismos para isso,e entre esses mecanismos está a conjunção “e”. Assim como o “que” é um conector que nos atrai muito, a conjunção “e” é muito prestigiada. Isso ocorre, pois tanto um como o outro são conectores por excelência.

O “que”, além de desempenhar papel de pronome relativo e de conjunção subordinativa integrante,  é  também base das locuções de conjunção, conjunção subordinativa e coordenativa, assumindo diversos valores, vejamos:

  1. a) comparativo: Falam mais que papagaio.
  2. b) adversativo: Apresente outro projeto que não esse.
  3. c) aditivo: Mexe que mexe.
  4. d) concessivo: Sensual que fosse, não o conquistava!
  5. e) condicional:  Que ela viesse aqui, resolveríamos tudo muito rápido!

O “e”, apesar de sua classificação de conjunção coordenativa aditiva, é polissêmico, ou seja, pode assumir diversos valores semânticos:

  1. a)  adversativo = Estudou, e não passou.
  2. b) conclusivo/ consecutivo = Estudou bastante, e passou.
  3. c) alternativo = Estudar e ficar à toa, o que fazer?
  4. d) concessivo = Foi aprovado, e conseguiu boa pontuação.

O conectivo “e” pode também ser palavra denotativa, expressando ideia de

  1. a) assunto = E ele? Por que não veio?– notem a retomada de assunto que fez o interlocutor nesse exemplo;
  2. b) explicação enfática = Você sabe que mereço, e muito!

Devido a essa variedade de função e sentido, os dois são os queridinhos de muita gente, afinal, basta empregá-los em um contexto e a “ligação” entre as partes estará feita. É por isso que, no momento em que se vai escrever, é preciso que se tenha cuidado para não empregá-los em exagero. Ao utilizá-los em demasia, além de a pessoa mostrar falta de conhecimento de vocabulário, revelar pouca habilidade para fazer coesão e empobrecer seu texto, é possível, ainda, que ela estabeleça uma relação incoerente com esses conectores.

Notem como isso pode “judiar” tanto em redação como em prova objetiva. Vejam as questões que seguem:

(CESPE – TRT-9R – Analista Judiciário)

A preposição de, em “do que”, introduz o segundo termo de uma comparação iniciada com “mais capaz de”.

“… Se pensarmos no que está à nossa volta, na América do Sul, então, mais ainda. Mesmo quando é bem  informado, o brasileiro típico se mostra mais capaz de dar notícia do que ocorre na Europa e nos Estados  Unidos da América do que em qualquer de nossos vizinhos. “

Observem ser até possível a maioria entender que o fragmento “do que ocorre na Europa e nos Estados Unidos da América” não seja, de fato, o segundo termo da comparação iniciada por “mais capaz de”, mas que é  difícil identificar, no texto, o segundo termo da comparação e entender essa continuidade do trecho do texto, isso é! A elaboração deixa a desejar, e é claro que o examinador aproveitou-se disso.

Afinal, o que o segmento representa no texto, se não é o segundo elemento da comparação? É complemento de “notícia”: “…ser capaz de dar notícia daquilo / que (pronome relativo) ocorre na Europa e nos Estados Unidos da América…”

O segundo elemento da comparação mesmo está em “do que em qualquer de nossos vizinhos.” =

mais capaz de dar notícia do que ocorre na Europa e nos Estados  Unidos da América

do que (é capaz de dar notícia do que ocorre) em qualquer de nossos vizinhos.”

(FCC – CASA CIVIL – Executivo Público)

Gostaria de propor algumas hipóteses sobre as formas de complô, sobre as intrigas e os grupos que se constituem para planejar ações paralelas e sociedades alternativas.

(linha 5) Em princípio, o complô supõe uma conjuração e é ilegal porque secreto; sua ameaça implícita não deve ser (linha 7) atribuída à simples periculosidade de seus métodos, mas ao caráter clandestino de sua organização. Como política, postula a seita, a infiltração, a invisibilidade.

(linha 10) Muitas vezes, o próprio relato de um complô faz parte do complô, e assim temos uma relação concreta entre narração e ameaça. De fato, podemos ver o complô como uma ficção potencial, uma intriga que se trama e circula, e cuja realidade é sempre duvidosa. O excesso de informação produz um efeito paradoxal, o que não se sabe passa a ser a chave da notícia. (linhas 15 e 16) O que não se sabe, em um mundo onde tudo se sabe, obriga a buscar a chave escondida que permita decifrar a realidade.

(Ricardo Piglia. Teoria do complô. In: Serrote, revista de ensaios, ideias e literatura. São Paulo: Instituto Moreira Salles, n. 2, jul 2009, p. 97)

Atenção aos itens A e C.

A alteração que mantém o sentido e a correção originais é a de

(A) e (linha 5) por “mas”.

(B) à simples periculosidade de seus métodos (linha 7) por “à simples perigos advindos de seus métodos”.

(C) mas (linha 7) por “e sim”.

(D) Muitas vezes (linha 10) por “Intermitentemente”.

(E) o que não se sabe (linhas 15 e 16) por “o efeito que não se conhece”.

Notem que a questão cobra exatamente o valor do “e” aditivo,na linha5 e, por isso, não pode ser substituído pelo “mas” neste contexto,  e o adversativo, na linha 7, que aqui é reforçado pelo “sim” em contraste ao “não” da oração anterior – não deve ser atribuída à simples periculosidade de seus métodos, o que permite a substituição do “mas”. Essas percepções semânticas só são possíveis com a análise do contexto. Sendo assim, o gabarito é a letra c.

Vejam este outro exemplo: Temos dois braços e uma cabeça e somos donos do mundo! Como o “e” tanto pode associar termos, palavras como também orações, enunciados, sintagmas, para entendermos o que os “es” estão relacionando no texto de exemplo, será preciso pensar no sentido da frase, o qual acabará se apresentando devido à elaboração do fragmento. A redação feita tem coerência, lógica: primeiro, foram somados “dois braços” e “uma cabeça” – que são termos de mesma ordem gramatical, dois substantivos numerados -; depois, foram somadas as orações “Temos… e somos …” – que também são de mesma ordem gramatical – duas orações com verbos e respectivos complementos. Podemos dizer que existe uma hierarquia sintática aí: primeiro, somam-se os menores e, depois, os maiores.

Não deixem de observar esses detalhes na formação dos períodos, dos períodos compostos, dos parágrafos, dos textos, enfim;  pois trata-se de um assunto muito cobrado em prova ultimamente.

Que confusão eles podem fazer! Com esses dois realmente não se brinca.

Bons estudos, pessoal! E até mais.


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