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Direito e Cinema nº 4 – “Bingo, O Rei das Manhãs”
Marco Aurélio Serau Junior
04/06/2019
Nesta nova Coluna sobre Direito e Cinema, contemplamos o Cinema Nacional, analisando o filme Bingo – O Rei das Manhãs.
Esse filme retrata a biografia de Arlindo Barreto, ator que nos anos 1980 deu vida ao palhaço Bozo, apresentador de um programa infantil de auditório, líder de audiência na TV pelas manhãs de domingos. Bingo, de 2017, é protagonizado por Vladimir Britcha e dirigido por Daniel Rezende.
Por questões contratuais com a matriz norte-americana, não se utiliza o nome Bozo, que foi adaptado para Bingo nessa obra cinematográfica, e o nome do ator foi trocado para Augusto Mendes.
No enredo, inspirado na história real, vê-se que o programa do Bozo (Bingo) alcança enorme sucesso de audiência, trazendo riqueza e prestígio ao seu intérprete. Este, até então um ator inexpressivo, acaba alucinado com a fama, o dinheiro e o assédio das mulheres; também se envolver pesadamente com álcool e drogas.
Augusto Mendes, que era um pai separado, acaba por perder a guarda de seu filho: em um episódio de uso intenso de álcool, desmaia e deixa a bebida alcoólica acessível para a criança pequena, que ingere tudo e também passa mal – o que enseja uma proibição de estar a menos de mil metros de seu filho e da ex-mulher.
Assista ao trailer:
Tomando em consideração essa breve sinopse do roteiro, passamos a discutir, a partir do filme, o tema da tutela da criança e do adolescente e algumas de suas implicações jurídicas, especialmente a ideia da paternidade responsável.
Uma imagem marcante no filme ocorre logo nas primeiras cenas: o personagem central, ainda um ator de pornochanchadas, leva seu filho para os bastidores das filmagens das cenas eróticas, onde o pequeno acompanha toda a gravação.
Outras cenas bastante chocantes (sobretudo aos olhos de hoje) consistem naquelas que reproduzem o programa de auditório: Bozo várias vezes humilha as crianças que ali participam do programa, bem como se vale de piadas escatológicas e de baixo calão. Há também a reprodução de uma apresentação da cantora Gretchen, que nos remete às preocupações com erotização precoce.
De modo geral, o filme ilustra o grande abandono afetivo praticado por Augusto Mendes em relação ao seu filho: não lembra de sua festa de aniversário, esquece de buscá-lo na escola, entre outras situações similares, entorpecido que se encontrava pela sua fama e pelo que ela lhe proporcionava.
Evitando quaisquer juízos morais em relação ao personagem ou ao que ele praticou, pode-se vislumbrar que no Direito brasileiro grandes avanços ocorreram nestas últimas três décadas no que diz respeito à proteção jurídica da criança e do adolescente.
A começar pela Constituição Federal de 1988 (especialmente artigos 203 e 226), mas em particular a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, que renovou nossos paradigmas normativos a esse respeito.
Também merecem menção o Código Civil de 2002 e todas as recentes discussões que ele propiciou sobre paternidade responsável, responsabilidade por abandono afetivo e diversos outros temas de grande repercussão no campo do Direito de Família, que muito avançou desde a década de 1980.
“As situações retratadas em Bingo, ora engraçadas, ora dramáticas, infelizmente ainda são recorrentes em nossa realidade.”
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