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WEBER

Waldo Fazzio Junior

Waldo Fazzio Junior

07/04/2017

A Modernidade, em seu apogeu idealista, atribuiu aos titulares do poder o dever de agir racionalmente, sob a luz de meios teleologicamente comprometidos. Em outras palavras, o administrador público, conquanto tenha a tendência para politizar tudo o que toca, deve orientar a regência dos assuntos públicos pelo atendimento das necessidades sociais, de uma vida boa para todos.

Essa invasão do que viria a ser o reino kantiano dos fins, reminiscente evocação do classicismo estoico não é, entretanto, privilégio da sociedade francesa do século XVIII nem de determinada sociedade nem de um dado momento, na história ocidental. Sempre foi a tônica do chamado espaço político-administrativo, servindo para cimentar, pelo menos teoricamente, os vínculos entre os objetivos da sociedade civil e as metas prioritárias do Estado.

Contudo, a realidade objetiva da Administração Pública e de sua gêmea, a Política, não é bem assim. Weber deixa isso muito claro quando anuncia que é impossível compatibilizar a política com o Sermão da Montanha. Conclui que “quem quer fazer política, tal como ela existe na terra, deve estar livre de ilusões e reconhecer o fato fundamental: o combate inevitável dos homens sobre a terra, tal como existe, na realidade”.

Por isso, malgrado o esforço socialista em nome das frustradas expectativas marxistas e as irrealizadas promessas liberais do capitalismo, o que acaba prevalecendo, e por isso permanecendo, é a sensação de desencantamento a que aludiu Weber, em face da irracionalidade. A decantada eficiência dos aparelhos burocráticos, também ideológicos, não é suficiente para superar a inequalização entre as razões do Estado, os meios de governo e o interesse social.

Não é possível ignorar a insolvência das instituições mediadoras e a índole meramente retórica dos “outputs” estabelecidos pelo Estado moderno, abrindo as portas do século XXI com recorrentes reivindicações por uma desrealização das repressões, os reclamos da subjetividade e a necessidade de uma depuração dos mecanismos de poder político.

Por isso, quando Charles Pierce afirma que “o caminho da paz vem logo depois do método de autoridade”, revive-se Francis Bacon e sua cética advertência de que “todos os governos são obscuros e invisíveis”. De um lado o autoritarismo que se afirma com a disseminação da ilusão e, do outro, a corrupção a evidenciar a disfunção pública: tudo pelo poder.

Talvez por isso Bertrand Russell, aos 90 anos de idade, lamentasse que “muito pouco resta das instituições e modos de vida que, na minha infância, pareciam tão indestrutíveis quanto o granito”.

O desencantamento sobrepujou a eficiência. O humano sempre prevalece sobre os ideais.


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