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O filho da engraxate: do preconceito a 9,2 no Exame de Ordem
Alvaro de Azevedo Gonzaga
11/05/2016
A trajetória de Juliano Dias Silva, filho da Vera Pereira da Silva, não é uma história que exalta a meritocracia: “ é só você se esforçar que você consegue!”, ao contrário, é um exemplo de que quando setores excluídos da sociedade recebem oportunidades, eles podem surpreender muita gente: “Afinal, quem esperava que o filho da engraxate, de poucos recursos financeiros, seriam aprovado no Exame da Ordem, ainda antes de se formar, com a nota final de 9,2?”
A relação de Dias com o Direito começou com 6 anos de idade, quando via os advogados em filmes e novelas. “Quando eu tinha que realizar as tarefas da casa, recusava alegando que advogado não tirava lixo, lavava a louça, etc… claro que no fim eu acabava fazendo”, brinca. A oportunidade de realizar o sonho surgiu com o bom desempenho no Enem, o que garantiu uma bolsa integral na conceituada PUC-RS.
Ele conta na faculdade e entre os colegas de turma nunca sofreu nem um tipo de preconceito, seja pela sua condição social, cor ou a profissão de sua mãe. Infelizmente, sua mãe viveu situação bem diferente. Trabalhando na Praça da Alfândega, umas das principais praças de Porto Alegre, quando contava com o orgulho sobre a faculdade que o filho, ouvia comentários e piadas preconceituosas.
“Eu sempre disse à ela, os comentários negativos servem pra nos motivar, sendo uma engrenagem a mais para superar todos os obstáculos. A discriminação e a preconceito também parte daquele que se sente ofendido, logo, se a pessoa não se preocupa, não se menospreza, jamais vai se importar com qualquer situação”, afima. “Aliás, estarei sempre de “portas abertas” e a disposição, visto que um dia, as pessoas com comentários maldosos e pensamentos preconceituosos podem precisar do meu auxílio”, complementa.
Exame de Ordem
Juliano foi aprovado no XVIII Exame de Ordem, quando começava o nono período da faculdade e passa a ser possível prestar a prova. Ele confessa que se inscreveu na prova sem muitas pretensões e por isso não havia “estudado tanto”. Porém, quando viu que foi aprovado para a 2ª Fase a situação mudou: “Como eu estava em período de férias, eu estudava de 16 a 18 horas por dia”, conta. A aprovação, que foi uma “felicidade imensa e ao mesmo um “peso a menos” nas costas”, veio com um resultado ainda melhor do que esperado: 9,2 na prova de Direito do Trabalho – para ser aprovado a nota mínima é 6.
Para superar essa etapa, ele conta que o apoio da mãe e dos familiares próximos foram essenciais. Vera, lembra que foram até uma livraria para comprar os livros da 2ªFase, porém o alto preço impediu a compra. “Os livros eram muito caros, para completar meu marido, padastro do Juliano, estava internado no hospital, eu ficava cuidando dele e não tinha como trabalhar. Foi um período difícil, mas fomos conseguindo ajuda com parentes e amigos, um promotor, que engraxava os sapatos comigos, doou um Vade Mecum e assim fomos conseguindo tudo que meu filho precisava”, lembra a mãe.
Apesar de ser aprovado logo na primeira tentativa, Juliano concorda que o Exam de Ordem não é “nada fácil”, exigindo muitas horas de estudo, concentração, esquecer um pouco a vida social, amigos, festas, enfim, qualquer outro compromisso que te desfoque do teu objetivo. “Estudem muito, muito mesmo. Façam questões, muitas questões, peças, revisem as matérias, façam resumos. Deixamos família, amigos, namorados, tudo de lado, mas vale a pena”.
“Vaquinha on-line”
Desde fevereiro de 2016, Vera iniciou uma “vaquinha on-online” para poder ajudar o filho nas despesas da colação de grau. Até agora ela já conseguiu R$ 4.420,00 do total de R$ 5.000,00. Quem quiser ajudar é só clicar aqui: FORMATURA DO FILHO DE UMA ENGRAXATE
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