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Tolices de professor: o risco da docência é se apaixonar pela própria voz
Alvaro de Azevedo Gonzaga
07/12/2015
Recebo a mensagem de um docente que diz o seguinte: “O professor fulano foi meu aluno. Vocês querem ter aula com o professor ou com o aluno? Eu sou o melhor.”
Conheça as obras:
Vade Mecum Doutrina Jurídico
Vade Mecum – Prática Penal
No mesmo dia assisti a uma fantástica palestra do professor e amigo Alysson Mascaro (professor associado do Largo São Francisco, USP) elogiando seu orientando, e também amigo, Camilo Onoda Caldas na ocasião do lançamento de sua tese de doutoramento. Ali vi o orgulho de um professor ver seu aluno brilhar!
Em oposição a este ato de generosidade, vivemos a era da arrogância, da ignorância e até mesmo da truculência. Caetano Veloso bem tinha razão ao dizer que “Narciso acha feio o que não é espelho”. As pessoas esvaziam-se em palavras que aparentam saber, mas muitas vezes escondem o medo e a insegurança daqueles que pouco sabem.
Discutia recentemente com meus alunos sobre trajes forenses e o que espero do professor no futuro. Nesse momento confessava-me inseguro com as novas tecnologias e como teríamos que ter inteligência para operar as formas de ensinar os saberes.
Ter medo, admitir as derrotas… te faz mais forte, ou ao menos humano. Saber seus limites te revela mais verdadeiro em seus atos.
Dos muitos questionamentos em minhas angústias, lembro-me da aula prática que tive com uma grande educadora: Ausonia Donato. Ela me ensinou que existem, basicamente dois tipos de professores e um de educador:
1 – O professor que ensina tudo, inclusive o que não sabe. Trata-se de professores inseguros, muitos no começo da carreira, que julgam que jamais podem deixar um aluno sem resposta, mesmo que esta seja errada, por mais que o discente não perceba;
2 – O professor que ensina tudo o que sabe. Este costuma ser aquele professor, que ou porque não sabe tanto, ou porque não sabe o que ensinar, fala tudo para se “aliviar” ou deixar sua consciência “leve” de ter trabalhado todo conteúdo.
3 – O educador que ensina o necessário. Este é o docente que, ao ter a tranquilidade de ensinar, ensina mais que conteúdos, ensina a raciocinar a refletir, não a repetir. Pode ser também o professor que calcule o que o aluno precisa naquele momento, isso mostra maturidade.
Existem professores, palavrosos, que falam muito mas exprimem pouco. Valorizam o pouco que sabem e subordinam seus alunos ao exposto como se o mundo tivesse como limite seus saberes. Cuidado com esse tipo de docente, muitas vezes leciona por vaidade.
Se o limite do conhecimento fosse o saber de um professor, significa que todo saber seria limitado a jamais expandir pela mesquinhez daqueles que não admitem a superação de alguém, que ao fazer isso, enalteceria-os de forma tácita ou até mesmo explícita.
Antes de fechar esse texto descubro que uma grande educadora faleceu. Marília Pera, a educadora da vida prática das arandelas parte e apaga uma luz dos palcos, mas não deixa de iluminar nossas memórias com suas luminárias interpretações.
De tudo isso, reflito se sou educador ou professor. Não sei responder com clareza, penso que todos somos professores que almejam ser educadores. Busco e torço para ver meus alunos nas melhores posições que estes buscam; em sua careira pública, advogados e professores. Orgulho-me muito de ver meus alunos brilhando a cada dia.
Aqueles que não foram meus alunos, só posso dizer o seguinte: protagonizem suas próprias vidas, inspirem-se em seus ensinadores, mas fujam de quem acha que sabe tudo, ou que acreditam-se insuperáveis por uma relação docente. E isso não é uma observação específica à professores de cursos preparatórios, ou de graduação ou pós, isso é uma observação para todos que abraçam uma incontável quantidade de pessoas e que podem liberta-las ou aprisiona-las em seus egos apaixonados pela própria voz.
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