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Uma interessante técnica de estudo: formulação de perguntas e autoexplicação
GEN Jurídico
21/08/2013
— Texto Publicado no blog do autor —
Por Rogerio Neiva
Recentemente passei por uma rica e interessante experiência de estudo e aprendizagem, a qual me mostrou na prática a eficácia de uma estratégia de estudo nem sempre utilizada. Trata-se da formulação de perguntas para si mesmo, o que também se confunde com a autoexplicacao.
Eu havia sido convidado a participar de um debate, com a responsabilidade de desenvolver uma apresentação sobre o tema dos mecanismos e normas jurídicas que tratam da proteção trabalhista aos portadores de necessidades especais. Trata-se de tema que guarda algumas peculiaridades, especificidades, complexidades e que não é muito afeto ao meu dia a dia de trabalho e docência, inclusive considerando as matérias mais debatidas nos processos que analiso como Juiz do Trabalho.
Daí tive que me preparar, revendo conceitos e informações que, por vários motivos, mas principalmente a falta de contato permanente e reiterado, não estavam intelectualmente disponíveis para mim com tanta segurança e domínio como gostaria. E não tive o tempo que acho que seria ideal para me preparar, sendo que, também por este motivo, antes do debate começar, enquanto aguardava já no local do evento, me sentia um pouco inseguro.
Assim, nestes minutos que antecediam o inicio do debate, parti para o trabalho de formulação de auto-perguntas. E o que percebi? Percebi que dominava o tema muito mais do que imaginava! Elaborei perguntas que considerei relevantes, em função das informações que considerava mais relevantes. E constatei que tinha a resposta para praticamente todas. Quanto às poucas que não tinha a resposta, identifiquei naquele mesmo momento onde estava a minha precariedade de domínio intelectual, o que me permitiu reforçar e rever o contato com tais informações, tendo isto me ajudado a fechar o domínio completo do tema, e injetar uma dose ainda maior de segurança.
Além das relevantes repercussões emocionais que esta experiência me proporcionou, pude reforçar o que já dominava, inclusive quanto ao que não tinha a clara consciência de que dominava. Também identifiquei o que não dominava, de modo que pude suprir tal precariedade. E ainda desenvolvi um trabalho de revisão quanto ao que tinha domínio, o que se traduz em contribuição para consolidação de memórias.
Apenas para que se tenha uma ideia mais clara, inclusive do ponto de vista prático, algumas das perguntas que me fiz sobre o tema da proteção juridico-trabalhista aos portadores de necessidades especiais foram as seguintes: (1) como é o regramento dos percentuais obrigatórios de empregados portadores de necessidades especiais nas empresas e qual o seu fundamento?; (2) qual o Decreto que disciplina o conceito de portador de necessidade especial?; (3) quais elementos conceituais compõe a definição de portadores de necessidades especiais?; (4) qual a Convenção da OIT que trata da readaptação?; (5) quais os fundamentos principiológicos que tratam do tema na Constituição Federal e em quais dispositivos estão?; (6) quais os fundamentos infraconstitucionais?
Muito bem, compreendida a experiência prática, vamos aos fundamentos que estão por trás disto, o que pode ajudar bastante na adoção desta estratégia.
Um dos defensores da formulação de perguntas enquanto estratégia de estudo trata-se do psisoclogo americano e referência no estudo da memória Daniel Schacter (SCHATCER, Daniel. Os sete pecados da memória.Rio de Janeiro: Rocco, 2003, pág. 52).
Já a estratégia da auto-explicação (self-explanation) é listada no emblemático estudo sobre as mais eficazes estratégias de aprendizagem, publicado no começo deste ano nos EUA, na Association for Psychological Science. Inclusive o que mais existe atualmente são sites e blogs no Brasil tratando deste estudo de forma totalmente equivocada, com traduções incorretas e compreensões inadequadas, afirmando taxativamente que determinada técnica de estudo é ineficaz e outra é eficaz. Mas isto é assunto para outra ocasião.
Venho trabalhando com um conceito que sistematizei no meu trabalho de final de curso da pós em neuroaprendizagem (que pretendo transformar em livro), que chamei de fatores estratégicos de formação de memórias de longo prazo. Ou seja, trata-se de fatores que podem ser mobilizados de forma isolada ou conjunta e são determinantes para a formação de memórias. Estão neste rol de fatores a consistência cognitiva, ou seja, a elaboração e o nível de mobilização cognitiva, bem como a repetição.
No caso da formulação de perguntas, é possível trabalhar com estes dois fatores. Naturalmente que aí se torna necessário saber avaliar quais as perguntas devem ser formuladas, ou seja, quais as informações merecerão a formulação de perguntas.
Além disto, como colocado anteriormente, podemos identificar pontos de falta de domínio, bem como ganhar segurança quanto ao que certificamos que dominamos. E este aspecto emocional tem uma serie de repercussões relevantes.
Isto não quer dizer que para tudo o que se estuda e para todas ocasiões esta estratégia seja adequada. Mas seguramente ha situações que era a sua utilidade.
Portanto, pense nesta possibilidade de estratégia de estudo e avalie em que situações pode ser útil.
Obra do autor
A obra “Como se preparar para Concursos Públicos com Alto Rendimento”, do autor Rogerio Neiva, oferece meios eficientes e racionais para você buscar sua aprovação em concursos e exames. Ele é fruto da experiência de alguém que viveu e vive intensamente há mais de uma década a preparação para o concurso público. (Saiba mais)