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Aprovado em 1º lugar para diplomata estudou por oito meses; veja dicas

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THOMAZ ALEXANDRE MAYER NAPOLEÃO

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02/07/2013

— Matéria publicada no Portal G1 —

Instituto Rio Branco abriu 30 vagas para o cargo, cujo salário é R$ 13,6 mil. Thomaz Napoleão, que passou em seu 1º concurso, fala sobre a carreira.

Thomaz Napoleão é diplomata há 4 anos e estudou por oito meses, 6 horas por dia (Foto: Arquivo pessoal)

Thomaz Napoleão é diplomata há 4 anos e estudou por oito meses, 6 horas por dia (Foto: Arquivo pessoal)

Thomaz Alexandre Mayer Napoleão, de 29 anos, se tornou diplomata quando tinha apenas 25 anos. Ele passou em 1º lugar no concurso do Instituto Rio Branco em 2009, feito obtido na primeira tentativa para ingressar no órgão. Além disso, era seu primeiro concurso público. Foram oito meses de preparação e cerca de R$ 5 mil investidos em cursinho preparatório e material de estudo.

O Instituto Rio Branco está com inscrições abertas até o dia 9 de julho para 30 vagas de diplomata. O salário é de R$ 13.623,19. Podem se inscrever candidatos com nível superior em qualquer área.

Desde 2011, Napoleão trabalha na Embaixada do Brasil em Islamabad, no Paquistão. É seu primeiro posto como diplomata no exterior. “Viajo a trabalho a cada dois ou três meses, em média, principalmente para os países dessa região, como o Afeganistão. Além disso, utilizo meu tempo livre para viajar extensamente pela Ásia e pelo Oriente Médio, por interesse pessoal”, conta.

Como foi a preparação

Napoleão conta que durante os estudos priorizou os temas nos quais tinha maior dificuldade, que eram direito, economia e história do Brasil. “Essas disciplinas concentraram 60% do meu tempo de estudos, pois minha base nas demais matérias, línguas inclusive, já era sólida. Estudei todos os conteúdos mais ou menos simultaneamente, o que talvez não seja estratégia eficaz para a maioria dos candidatos”, comenta. O diplomata fala inglês, francês, russo e espanhol. As fluências em inglês e francês vieram da adolescência, as outras, mais tarde, segundo ele.

Napoleão estudava cerca 6 horas por dia, inclusive nos finais de semana. Napoleão conta que na época trabalhava em tempo integral: era assessor internacional do Ministério da Educação. “Acordava às 6h30, estudava de 1 a 2 horas pela manhã, depois ia às 9h ao trabalho, estudava mais 1 hora durante o almoço, voltava ao expediente à tarde e estudava mais 3 a 4 horas à noite, entre aulas no cursinho e leituras em casa. Procurava não dormir muito tarde, após as 23h, pois um bom repouso diário era fundamental para manter essa rotina exigente. No entanto, nunca tive metas de disciplinas claramente organizadas: simplesmente sabia os assuntos que deveria priorizar, e adaptava meu tempo livre de maneira correspondente.”

Napoleão conta que leu, total ou parcialmente, de 100 a 120 livros para o concurso. Mas durante a preparação, ele não deixou o lazer de lado. “Fiz alguns sacrifícios, mas não em excesso. Reduzi o ritmo de viagens, baladas e outros programas sociais, e mantive namorada durante a maior parte da preparação. Um erro muito comum entre candidatos é se dedicar única e exclusivamente ao concurso, abrindo mão do lazer, do exercício e da vida social para respirar estudos dia e noite. Com raras exceções, é uma péssima escolha: aumenta a ansiedade e o estresse, e com isso diminui a produtividade dos estudos. Disciplina não significa autoflagelo”, diz.

Para ele, o que determina a aprovação é a condição psicológica na hora da prova. “Dificilmente alguém estará calmo e relaxado se tiver passado 100% do seu tempo entre livros, de maneira obsessiva, sem nunca descansar e descontrair. Não somos máquinas.”

Ao ser questionado sobre o “segredo” do seu sucesso, ele cita quatro fatores. Primeiro, sua formação acadêmica e experiência profissional anteriores, que facilitaram a preparação. Em segundo lugar, o fato de ser “um leitor compulsivo e um estudante entusiasmado”. “Pode parecer óbvio, mas quem encarar o estudo como um sacrifício, e não como um prazer, dificilmente terá chances”, diz.

Outro fator é a facilidade com  línguas estrangeiras, por ter estudado em escolas americanas e canadenses, em São Paulo, e por ter feito mestrado na França. “Graças a isso, obtive a maior nota do concurso em inglês e em francês, embora não fosse muito forte em espanhol.” E, por último, a atitude psicológica no momento das provas, mesclando uma grande dose de frieza e autocontrole com um bom tempero de autoconfiança e otimismo. “O formato do concurso, muito longo, desgastante e extremamente competitivo, favorece os candidatos mais calmos e metódicos, o que condiz com minha personalidade. O concurso é uma espécie de maratona, uma prova de resistência, não uma corrida de velocidade.”

Para quem pretende fazer o concurso, Napoleão aconselha o candidato a fazer uma pesquisa criteriosa sobre o que realmente faz um diplomata brasileiro. “Um pouco de autoconhecimento é necessário: você quer mesmo passar o resto da vida adulta se mudando de cidade e país a cada dois ou três anos, e está pronto para os sacrifícios pessoais que isso implicará? A diplomacia é uma carreira interessantíssima, mas não é para todos”, alerta.

Instituto Rio Branco, que forma diplomatas (Foto: Divulgação)

Instituto Rio Branco, que forma diplomatas
(Foto: Divulgação)

No começo dos estudos, ele aconselha o candidato a identificar os pontos fortes e fracos entre as matérias do concurso, e, segundo ele, a melhor maneira de fazer isso é resolver algumas provas anteriores e testar o desempenho.

O passo seguinte é escolher o curso preparatório mais adequado, seja ao vivo ou à distância (aulas telepresenciais). “Pesquise bastante, compare horários e preços, informe-se sobre cada professor e converse com outros candidatos. Teoricamente é possível passar sem cursinho, mas esse não é o caso de 95% dos aprovados nos últimos anos. Seria irresponsável recomendar que alguém se prepare sozinho”.

“O resto é manter a disciplina regular de estudos, priorizar os assuntos que efetivamente serão cobrados – não caia na tentação de perder tempo com conteúdos saborosos, mas inúteis para a prova, atenha-se ao edital e siga os conselhos de professores experientes – e permanecer tranquilo e paciente durante a preparação.”

Para Napoleão, embora todos os conteúdos sejam importantes, as duas matérias claramente decisivas do concurso são português e política internacional. Segundo ele, a primeira fase tem numerosas questões de gramática e interpretação textual; a segunda etapa, sobretudo a redação, é uma das barreiras mais difíceis do concurso; e na terceira fase, discursiva, é impossível ser aprovado sem escrever muito bem. Já os temas de política internacional, na prática (não no edital), representam mais de metade de todas as questões (inclusive em línguas estrangeiras) da terceira e da quarta fases; nos últimos anos, a redação (segunda fase) também tem versado sobre assuntos políticos, mais que literários.

Para Napoleão, a terceira fase, com seis provas escritas, em dias alternados, é a mais exaustiva, pois contempla, ao todo, 24 horas de questões discursivas complexas (quatro horas para cada uma das seis matérias). “Mas não é necessariamente a mais difícil. Fiquei mais preocupado com a segunda etapa, a prova discursiva de português e redação, cuja banca [Cespe/UnB] tem a reputação de ser especialmente rigorosa”, diz.

Para quem está prestando o concurso há anos e não passa, Napoleão indica paciência, disciplina e dedicação. “Na maioria dos casos, o concurso é um projeto de longo prazo e o mais frequente é que a aprovação venha após 2 a 4 anos de estudos específicos, embora haja exceções. Alguns de meus colegas no Instituto Rio Branco conseguiram a aprovação após 6 ou 7 anos de tentativas”, afirma.

Napoleão explica que para quem chegou perto da aprovação em concursos anteriores não faz sentido desistir, mas se nunca conseguiu se aproximar da nota de corte da primeira fase, após várias tentativas, é aconselhável rever os planos. “O número de candidatos altamente qualificados é estruturalmente superior ao número de vagas disponíveis, e sempre será, pelo simples fato de que o Brasil é um país enorme, mas dotado de um serviço diplomático pequeno. Não quero azedar os sonhos de ninguém, mas muitas frustrações seriam evitadas se mais pessoas fossem realistas.”

Nesse caso, ele indica o concurso para oficial de chancelaria do MRE, “que é um pouco menos exigente e também permite um estilo de vida semelhante ao do diplomata, com iguais oportunidades de conhecer o mundo e lidar com temas interessantes”.

“Os aspirantes que de fato têm chance de sucesso devem persistir em seus planos, sem perder a calma. Devem identificar as deficiências de seus programas de estudo, se possível após consultar professores e outros candidatos, para compensá-las. Muitas vezes a diferença entre a aprovação e a reprovação, principalmente na primeira fase do concurso, é um detalhe banal: uma noite de insônia, uma cólica, um ‘branco’ sobre um único tema de economia, uma briga recente com a namorada ou qualquer outro azar que provavelmente não se repetiria no ano seguinte. Não há motivo para desespero, pois o concurso é anual, de maneira ininterrupta desde 1946, e há pouquíssima variação entre uma edição e a seguinte. Isso significa que o estudo é cumulativo: as leituras feitas para o concurso de 2012 continuarão úteis em 2015, na maioria dos casos.”

Além da bibliografia recomendada e de apostilas e provas anteriores, Napoleão acha importante que o candidato se mantenha atualizado por meio de jornais, revistas e internet, na parte de atualidades em geral. “A prova de política internacional requer conhecimento aprofundado das atuais ações e campanhas da diplomacia brasileira; a prova de direito pode se debruçar sobre controvérsias jurídicas e tratados internacionais recentes; e a prova de geografia cobra diversas questões socioeconômicas de atualidade”, exemplifica.

Vida de diplomata

Segundo ele, a diplomacia é uma carreira extremamente versátil: é possível trabalhar com temas políticos, comerciais, ambientais, consulares, humanitários, culturais e de desarmamento, entre outros. Em Islamabad, ele conta que lida basicamente com assuntos políticos, como o acompanhamento do conflito no Afeganistão, o equilíbrio nuclear entre Índia e Paquistão, a consolidação da democracia paquistanesa e o combate ao terrorismo, e de cooperação, como assistência humanitária prestada pelo Brasil a refugiados e vítimas de catástrofes naturais e capacitação técnica em setores como agricultura e segurança alimentar.

Entre a aprovação no concurso e a ida a Islamabad, ele fez o curso de formação no Instituto Rio Branco, que dura três semestres e é a etapa inicial e obrigatória da carreira. Ele também trabalhou na Secretaria de Planejamento Diplomático, unidade que assessorava o então ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.

Napoleão, que é da cidade de São Paulo, se graduou em 2005 em relações internacionais e em 2006 em jornalismo. Ele ainda tem mestrados em segurança internacional, concluído em 2008, em Paris, na França, e em diplomacia, em 2011, no próprio Instituto Rio Branco.

O diplomata conta que, diferentemente da maioria dos aspirantes à carreira, não passou muitos anos sonhando com a diplomacia. “Achava que o Itamaraty era excessivamente hierarquizado, elitista ou conservador. Desfiz essas ideias preconcebidas após conversar com amigos que já haviam ingressado no ministério que disseram que a carreira diplomática havia evoluído muito nas últimas décadas”, diz.

Ele conta que durante quase toda a vida acadêmica, sua ambição era trabalhar nas Nações Unidas ou em outros organismos internacionais, ou em ONGs dedicadas à resolução de conflitos e à ação humanitária, ou até ser correspondente internacional em zonas de conflitos. “Somente mudei de ideia ao final do mestrado, quando morava na França, e consultei alguns amigos, parentes e professores que conheciam o Itamaraty.”

Napoleão conta que uma das vantagens da carreira é a possibilidade de conciliar diversas rotinas extraprofissionais. Segundo ele, muitos diplomatas são também acadêmicos ou artistas, escritores, fotógrafos, cineastas, poetas ou pintores, por exemplo. Napoleão trabalha ainda como professor de política internacional em um curso preparatório para a diplomacia e pretende fazer doutorado em relações internacionais, para posteriormente lecionar em universidades. “Sou também fotógrafo e organizo exposições e ensaios ocasionais.” Ele inclusive mantém um de fotografias (http://napoleaophoto.com).

Festival de monges budistas no Butão fotografada pelo diplomata, no início do ano (Foto: Thomaz Napoleão)

Festival de monges budistas no Butão fotografada pelo diplomata, no início do ano (Foto: Thomaz Napoleão)

Segundo Napoleão, os diplomatas mudam de país a cada 2 ou 3 anos, normalmente. Há um sistema de rotação entre postos, que combina as preferências pessoais e profissionais de cada diplomata com as necessidades políticas e administrativas do Itamaraty. “Procura-se, de modo geral, alternar postos ‘confortáveis’, cidades desenvolvidas, estáveis, seguras e cultural ou geograficamente próximas do Brasil, com ‘desafiadores’, países em desenvolvimento, às vezes turbulentos, onde a infraestrutura é mais precária e o choque cultural será maior. Mas ninguém é forçado a servir em qualquer lugar contra sua vontade”, explica.

Napoleão sonha em trabalhar em vários países, principalmente no Oriente Médio e na África, além da Rússia. “Sempre gostei muito de viajar, de negociar e debater, de aprender línguas estrangeiras, de estudar temas políticos e de enfrentar choques culturais. Gosto muito do sentimento de representar o Brasil no exterior, é uma grande honra. É evidente que a diplomacia era a profissão ideal para mim.”

De acordo com Napoleão, a presença de mulheres e afrodescendentes no Itamaraty ainda é insuficiente. Na sua turma, havia cerca de 25% de mulheres e 10% de afrodescendentes. “A presença feminina, infelizmente, ainda é pequena no Itamaraty, mas hoje várias de nossas principais embaixadas e missões são chefiadas por mulheres. Da mesma forma, o Itamaraty sempre foi majoritariamente branco, mas a participação de negros vem crescendo, em parte graças a políticas de ação afirmativa lançadas no governo Lula”, diz.

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