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O rumo do mundo
Sacha Calmon Navarro Coêlho
22/08/2017
No que diz respeito à nossa descendência ibérica, é preciso dizer que o reino árabe/marroquino do El Ghraib sempre foi aliado seguro do Condado Portucalense, cujo conde, nascido no reino da Borgonha, era casado com a filha do rei de Leão. Essa parceria terminou quando dom Afonso Henrique, seu filho, com a ajuda dos templários e da Borgonha (hoje incorporada à França), para cumprir os desígnios de São Bernardo, fez com que a segunda cruzada tomasse Lisboa, então em poder dos mouros. Os habitantes do El Ghraib foram empurrados para o Sul, dando nome a hoje conhecida região de Portugal chamada de Algarve, a mostrar gente de tez morena.
A Europa medieval, cristianizada após a queda do Império Romano do Ocidente, achava que a ordem política feudal era para sempre: clero, suseranos e vassalos (os servos da gleba). Portugal, excepcionalmente, não teve feudalismo, pois o país misturado com a Galícia nem existia, era o Condado Portucalense, ligado aos reis de Leão e Castela. Os condes, desde Afonso Henrique, se achavam reis, mas não eram reconhecidos como tais pelos demais espanhóis. Foi com dom João, o primeiro da dinastia de Avis, à altura do século 14, que se dá, de fato, a consolidação do Reino de Portugal, após a Batalha de Aljubarrota, quando oito mil portugueses derrotam 30 mil castelhanos, deixando-os quebrantados, com a sua jovem elite exterminada. No local da histórica refrega foram erguidos o mosteiro e a Catedral da Batalha, essa monumental (a malícia tática de Portugal foi muito estudada pelos chefes dos 500 arqueiros ingleses que dela participaram, pois a Francônia apoiava os espanhóis).
O surgimento de Portugal, a Escola de Sagres, a circunavegação da África, o primeiro a chegar à Índia, China e Japão, onde estabeleceu feitorias e o uso pioneiro dos canhões de ré, que arruinavam os navios mercantes árabes, senhores do comércio da Índia com o Ocidente, foi algo absolutamente imprevisto e impensável, mas aconteceu. Graças aos nossos antepassados lusitanos, a globalização marítima inaugurou a era mercantilista internacional, pondo fim ao feudalismo agonizante no resto da Europa.
Hoje em dia vivemos um quadro parecido. Parece que o mundo atual é eterno, já que o socialismo desapareceu com a adesão da Rússia e da China ao capitalismo. A primeira globalização, a marítima, ligando a Europa à África, à Índia e à Ásia, revolucionou o comércio. Atrás de Portugal vieram os espanhóis, holandeses, Flandres e Inglaterra. Nascia uma nova era à qual a Renascença italiana acrescentou beleza e arte, ainda que Veneza e Gênova tenham se arruinado como intermediários dos árabes no Mar Mediterrâneo.
O Reino Unido, a partir de 1780, inicia a globalização industrial, mudando a face da Terra. Mas qual será o rumo do mundo doravante, depois da explosão econômica chinesa, de Trump, o imbecil, e do decadente Brexit, movido por saudade e não pelo por vir? O Mckinsey Global Institute nos dá algumas indicações após 10 anos de pesquisas: “A transformação mais importante é o declínio do peso dos países de alta renda na atividade econômica mundial. A Grande Divergência do século 19 e início do 20, quando as economias de alta renda de hoje saltaram à frente do resto do mundo em termos de riqueza e poder, entrou em marcha a ré; e em alta velocidade. Nada ilustra melhor o avanço da China do que a sua imensa poupança. Ela é grande assim porque a economia é enorme e, em parte, porque os consumidores e as empresas chinesas poupam muito. É provável que o capital, os mercados de capital e as instituições financeiras da China se tornem tão influentes na economia mundial no século 21 quanto o capital, os mercados de capital e as instituições financeiras dos Estados Unidos o foram no século 20. Entre 1990 e 2022, a participação dos países de alta renda na produção mundial, pela paridade do poder de compra, cairá de 64% para apenas 39%, segundo previsão do FMI. De forma notável, os países emergentes e os em desenvolvimento da Ásia serão responsáveis por todo o aumento que subirá de 12% para 39% do total mundial ao longo desse período. Em 2022, portanto, a participação dos países emergentes e em desenvolvimento da Ásia será igual à dos países de alta renda. A ascensão da China é a razão maior dessa transformação drástica no poder econômico relativo, embora a da Índia também seja expressiva. Estima-se que a participação da China na produção mundial saltará para 21%, em 2022. Para a Índia, a previsão é de aumento de 4% para 10%”.
O que o Brasil deve fazer? Reduzir o tamanho do Estado em si mesmo e na economia e acelerar a educação de toda a população (um plano decenal definitivo e redentor). Precisamos correr. O pequeno Portugal tornou o mundo interligado. A grande Ásia tornará o Ocidente um grande Portugal, se Trump não nos destruir.
Fonte: Blog do Sacha
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