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Efeito Representação e o Comportamento Habitual

COMPORTAMENTO HABITUAL

MEDIADOR

REPRESENTAÇÃO

José Osmir Fiorelli

José Osmir Fiorelli

05/12/2017

A representação acompanha o ser humano nos ambientes sociais. As pessoas representamna presença de outras. O mediador deve compreender a extensão em que isso acontece e os efeitos emocionais que ela pode ocasionar ao longo das sessões.

Em todos os ambientes (familiar, religioso, social, escolar, empresarial, de lazer) as pessoas representam na presença de outras, conhecidas ou não.

A representação pode ser consciente ou inconsciente, dependendo da situação, emoções presentes, dos interesses em jogo, de experiências anteriores.

Os objetivos pretendidos no representar são diversos e podem combinar-se entre si: ser aceito, participar, dominar, integrar-se, destacar-se etc.

Vários fatores afetam a maneira como ela acontece.

A idade, sem dúvida, a influencia;  seria ingenuidade esperar de um adolescente ou adulto a mesma espontaneidade de uma criança e ou as mesmas estratégias de um adulto. Observa-se que a pessoa que representa, além de cronificar o representar, com o tempo adquire uma certa especialização na prática dos comportamentos representativos, à maneira do artista de teatro que melhora com a prática.

A experiência do agente constitui outro fator significativo: a habitualidade torna o palco menos ameaçador e propicia transmitir maior espontaneidade; em local desconhecido, o indivíduo tende a comportar-se tão próximo quanto possível dos padrões ali exigidos ou recomendados. Por exemplo, em uma corte de justiça, em um templo, na delegacia de polícia. Ambientes em que predominam rituais rígidos reduzem o efeito representação. Isso justifica todo o protocolo e padronização que se recomenda para a Sessão de Mediação.

No local de trabalho percebe-se a representação ajustada aos papéis e responsabilidades. A maneira como gerentes representam difere substancialmente da utilizada por assistentes,  assessores e demais colaboradores. O empregado estável, concursado, representa de maneira diversa daquele cuja estabilidade no emprego depende do desempenho e, muitas vezes, dos humores do superior imediato.

São facilmente perceptíveis, no ambiente de trabalho, as diferenças de representação quando o indivíduo encontra-se entre seus pares, na presença de um superior ou com seus subordinados. A liturgia do cargo, do local e da situação combinam-se de modo complexo e dependente da cultura que prevalece no ambiente.

Em uma festa, evidencia-se nos trajes, nas maneiras de se comportar e nas falas. A maneira como se segura um copo de vinho, a manipulação dos talheres, o uso do guardanapo, os sorrisos e os toques nos penteados acompanham a encenação social. A importância dos relacionamentos sociais produz, obviamente, notável efeito nessa representação. Há pessoas que alteram a entonação da fala, a maneira de olhar, a forma de sorrir.

No lazer, observem-se pessoas caminhando em um parque – o teatro social impõe-se nas vestimentas, nos gestos, na maneira de olhar e até de respirar. As representações, nesses espaços públicos, estabelecem diferenciações sociais, visíveis em inúmeros detalhes e que demarcam distâncias entre grupos.

No lar ela envolve cônjuges e filhos, desde o tão conhecido “fazer de conta que não está doente”, até na ocultação de problemas do trabalho, da escola, das relações interpessoais. A moça briga com o namorado e “faz de conta” que “está tudo bem”; um dos cônjuges envolve-se em um complicado conflito na empresa, perde (ou aumenta) o apetite, mal consegue dormir e … “está tudo bem!”.

Democrático, esse fenômeno independe de instrução ou poder aquisitivo; religiosos, políticos, advogados, engenheiros, pedreiros, cozinheiros, atendentes de público irmanam-se na informalidade inexorável do teatro social. Modifica-se, apenas, a forma de representar.

Essa característica do comportamento humano foi comprovada cientificamente na famosa experiência de Hawthorne (Huffman, Vernoy e Vernoy, 2003:651), conduzida pelos pesquisadores de Harvard na Western Electric Company em 1924, fartamente descrita em livros de administração e de psicologia.

Nessa experiência, dois grupos executaram a mesma tarefa, um deles sabendo-se observado e o outro não;  aquele ciente da presença dos observadores desempenhou com mais eficiência, embora as condições de qualificação e realização das atividades fossem idênticas.

O efeito Hawthorne comprova-se cotidianamente no esporte: os atletas desempenham melhor quando incentivados pelos torcedores; por isso tem muito valor o velho ditado “treino é treino, jogo é jogo”.

A representação encontra amplo espaço para manifestar-se nas sessões de mediação, onde são proporcionadas, aos mediandos, condições bastante elásticas de narrar seus pontos de vista e manifestar-se abertamente.

É de se supor que os mediandos representarão tanto mais quanto:

– maiores forem os benefícios esperáveis;

– mais o mediando que representa conhecer o efeito do seu comportamento sobre o outro mediando;

– mais a representação contribuir para obtê-los;

– melhor se ajustar às suas características predominantes de personalidade.

As características de personalidade descritas no item     dão uma ideia de como poderão variar os comportamentos.

Alguns exemplos;

– uma pessoa histriônica promoverá seu espalhafato, desde a chegada através da indumentária exótica ou insinuante, dos adornos, da expansividade exagerada;

– o mediando com propensões esquizóides contará suas nozes em silêncio;

– o narcisista ostentará seu melhor traje, um penteado para a ocasião e outros elementos que denotem sua superioridade;

– o passivo-agressivo mostrar-se-á notavelmente cordato e sedutor enquanto afia o punhal da traição e assim por diante.

A interação com pessoas que representam constitui o cotidiano dos Operadores do Direito. Sempre um teatro, eventualmente pairando ao burlesco, outra vezes ao trágico, envolve as queixas, as justificativas, as explicações.

Importante observar que a representação NÃO EXCLUI, e muitas vezes não atenua, os danos emocionais e, muito menos, os danos físicos, de qualquer dos mediandos, quando estes existem e podem, inclusive, ser o desencadeante dos procedimentos legais.

Conclusão: o que se esconde por trás do proscênio deve ser desvendado  para que a verdade venha à tona no transcorrer das narrativas. A sensibilidade do Operador de Direito é essencial para que isso aconteça.

LEITURA COMPLEMENTAR para o item 6.1.2 – Influência da situação, em Mediação e Solução de Conflitos – teoria e prática, de Fiorelli, Fiorelli & Malhadas.


Referência citada:
HUFFMAN, K; VERNOY, M; VERNOY, J. Psicologia. São Paulo: Atlas, 2003.

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