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FINANCEIRO E ECONÔMICO
Desafios da Economia Brasileira no final de 2024

Luiza Sampaio
19/02/2025
Desde final de 2024 e início de 2025, a economia brasileira tem enfrentado desafios que podem ser melhor compreendidos ao analisar questões como a inflação, a política monetária e fiscal, e a desconfiança quanto à dívida pública. Para o leitor leigo, explicaremos alguns desses pontos, enquanto os mais experientes poderão apreciar uma visão objetiva dos problemas.
A inflação, definida como a elevação generalizada e persistente dos preços, é um problema recorrente no Brasil. Seus efeitos negativos incluem: aumento da desigualdade social em quea população de baixa renda, com menor acesso a instrumentos financeiros, sofre mais com a inflação, enquanto os mais ricos conseguem proteger ou até ampliar seus recursos. Sem contar também que o poder de barganha de reajustes salariais da classe mais pobre é bem menos que dos mais favorecidos, fazendo com que os salários menores fiquem sempre mais defasados ao longo do tempo e, consequentemente, perdendo mais poder de compra; perda de competitividade externa fazendo com que produtos brasileiros tornam-se mais caros no mercado internacional, prejudicando exportações e a balança comercial; aumento daincerteza econômica que reduz os investimentos produtivos, limitando o crescimento e o emprego.
Entre os motivos para a alta dos preços estão choques de oferta (ex.: aumento do preço do petróleo no mercado internacional), inflação inercial (quando a expectativa de elevação de preços se autorrealiza), e a inflação de demanda, que ocorre quando a demanda por bens e serviços supera a oferta.
Nesse artigo, vamos abordar apenas este último motivo, ou seja, quando ocorre uma inflação de demanda.
Quando a demanda de todos os setores da economia aumenta numa proporção maior que a oferta realizada pelas empresas, a tendência é que os preços subam. Imagine que você, leitor, tenha um carro para vender. Se muita gente se interessar em comprá-lo, imediatamente, você vai elevar seu preço, não é mesmo? Assim funciona a economia. Se os produtos ofertados são muito procurados, a tendência é que os preços subam. Lógico, que isso ocorre supondo que as empresas não tenham condições de imediatamente ofertar mais produtos porque, do contrário, não justificaria o aumento dos preços. Pensemos no carro que você colocou a venda. Se no lugar de um carro, você tiver muitos carros para vender, o fato de ter mais pessoas querendo comprar, só faz com que você venda mais carros, não é verdade? Agora, se você só tem um carro e muita gente quiser comprar, então, como dito acima, você irá elevar o preço dele. Na economia é a mesma coisa. Muita gente demandando o produto e não havendo oferta suficiente para isso, faz com que os preços se elevem. Você pode estar se perguntando: e por que as empresas não ofertam mais? É que para ofertar mais, é necessário haver tempo e capacidade produtiva, ou seja, a empresa nem sempre consegue aumentar sua produção da noite para o dia, provocando um lapso temporal entre a demanda e a oferta.
Mas a demanda, que em Macroeconomia, chamamos de demanda agregada é composta de que? Ou seja, os setores da economia demandam bens e serviços para que? Respondendo a essa pergunta, dizemos que as famílias demandam na medida em que consomem, as empresas demandam na medida em que investem, o governo demanda na medida em que gasta e o setor externo demanda na medida em que faz o país exportar.
Quando a demanda agregada cresce mais rapidamente que a oferta, os preços sobem. Para combater isso, é necessário reduzir o consumo, o investimento, os gastos governamentais e/ou as exportações, utilizando políticas econômicas como as políticas monetárias e/ou fiscais.
A Política monetária é controlada pelo Banco Central que busca influenciar a economia através da oferta de moeda, de tal maneira que se houver muita oferta de moeda, o preço dela cai. Se houver pouca oferta de moeda, o preço dela sobe. E o preço da moeda é a taxa de juros O aumento da taxa de juros reduz o crédito, desestimulando consumo e investimento.
A Política fiscal é controlada pelo governo (Tesouro Nacional) e envolve gastos públicos e tributação. Aumentar gastos e reduzir impostos estimula a demanda, enquanto o inverso a reduz.
Atualmente, o Banco Central eleva a taxa de juros para conter a demanda agregada e, por conseguinte, a inflação. No entanto, a percepção de que o governo não realiza ajustes fiscais eficazes alimenta desconfianças sobre o controle da dívida pública.
O temor de um aumento descontrolado da dívida pública gera incertezas, levando investidores a retirar capital do país. Esse movimento eleva a cotação do dólar devido à redução da oferta da moeda estrangeira. A desvalorização do real agrava a saída de capital, criando um ciclo especulativo que desestabiliza a economia.
Apesar disso, o Brasil apresentou, em 2024, um crescimento do PIB acima do esperado (o IPEA projetou um crescimento de 3,5% para 2024). Além disso, o país possui uma reserva cambial robusta de cerca de 330 bilhões de dólares. A valorização do dólar frente ao real aumenta o valor dessas reservas em moeda local, o que é positivo em certo sentido.
Para conter a disparada do dólar, o Banco Central vende dólares no mercado, ampliando a oferta e estabilizando temporariamente a cotação.
Porém, a falta de credibilidade em relação ao ajuste fiscal, eleva a pressão sobre o Banco Central para continuar aumentando a taxa de juros. Embora eficaz no combate à inflação, essa medida desestimula investimentos produtivos e compromete o crescimento econômico, afetando emprego e renda num futuro próximo.
O governo, por sua vez, precisa avançar na aprovação e implementação de um ajuste fiscal crível, equilibrando cortes de gastos e políticas sociais para evitar aumentar a desigualdade.
Portanto, o equilíbrio entre política fiscal e monetária é essencial para superar os desafios econômicos do Brasil. O governo deve agir com responsabilidade fiscal, enquanto o Banco Central precisa calibrar suas ações para evitar danos ao crescimento de médio e longo prazo. Somente com esforços coordenados será possível estabilizar a economia, restaurar a confiança dos investidores e promover um desenvolvimento mais inclusivo.
