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Advocacia: Um exercício de superação e resiliência

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Gabriel Quintanilha

Gabriel Quintanilha

26/05/2017

A advocacia não é uma profissão de covardes.

Sobral Pinto.

Há pouco mais de onze anos fui aprovado no exame de ordem e logo que colei grau, recebi minha carteira de advogado. Quando prestei o exame, só era cabível a inscrição e realização da prova após a colação de grau. Mas a advocacia estava no meu sangue e eu ainda não sabia. Impetrei um Mandado de Segurança e fiz a prova entre o nono e o décimo períodos do curso. Fui aprovado em 06 de janeiro de 2006, quando iniciei minha carreira.

Minha geração foi talvez a mais seduzida pelo concurso público. Estabilidade, bons salários, status, poder… e com a democratização e expansão dos cursos de Direito, o eldorado da aprovação passou a estar ainda mais presente, nas gerações seguintes.

Quem nunca ouvir a história do menino pobre que foi aprovado na magistratura? Do garoto que passou em três concursos aos 26 anos? São tantos exemplos que falaríamos sobre isso por meses.

Para aqueles que não são do direito, a lógica é a mesma. Encontro amigos de infância após anos sem contato e ouço a fatídica pergunta: “já virou juiz?”

O Direito virou um curso preparatório. Nos bancos de graduação, 70% dos alunos querem fazer concurso. A advocacia virou o resto. Poucos advogados exercem a profissão por sonho, por dom. A maioria é advogado até passar.

No meu caso, gosto do que faço. Advogar é minha vocação, minha realização pessoal e profissional, mas no Brasil do concurso público em que 15% do PIB é utilizado para pagar salários de servidores, a advocacia está se desvalorizando e se transformando em uma profissão de resistência. Juízes e promotores sendo aprovados com pouca idade, pouca experiência de vida, nenhuma experiência profissional que, veem o advogado como aquele que não passou. O cara que não deu certo.

Logo no Brasil, terra de grandes advogados como Ruy Barbosa, Evandro Lins e Silva, Sobral Pinto e tantos outros.

Muito me entristece que a advocacia tenha se transformado em resto. Aquilo que sobra. Muito me entristece o exercício da minha profissão se transformar em um martírio no cotidiano forense. Horas esperando o juiz para despachar e quem despacha é o assessor, decisões sem fundamento, desrespeito ao jurisdicionado e ao profissional que o representa.

Tem como mudar? No longo prazo sim. Teremos uma categoria forte quando os advogados passarem a ter orgulho de sua escolha. Quando os advogados se impuserem tecnicamente, com petições bem escritas, estruturadas e elaboradas. Vejo cada aberração na prática que me dá vergonha alheia. Além disso, temos como mudar quando a advocacia deixar de temer a magistratura. Somos todos necessários a efetivação da justiça. O juiz, o promotor e o advogado. O respeito deve ser mútuo.

Enquanto isso não acontecer, enquanto não conseguirmos ter orgulho da nossa profissão, a advocacia continuará sendo, parafraseando o mestre Lenio Streck, um “exercício de humilhação”.

Eu ainda acredito apesar de todo o cansaço. Eu aposto na advocacia como um exercício de superação.


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