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Direito & Justiça n. 34
Fernando Antônio de Vasconcelos
14/10/2016
Acrísio, o cachorro e o avião
Acrísio é aquele cidadão nascido em João Pessoa, morador no Estado de São Paulo durante muitos anos e que vinha anualmente por aqui visitar seus parentes. Geralmente, depois de alguns dias, Acrísio pedia para seu sobrinho comprar a passagem de volta, alegando que havia muita confusão em matéria política e ele não gostava disso. Em 2015 ele foi presenteado com uma casa no condomínio Cidade Madura, destinado a idosos. E agora ele inverte os passeios: ao invés de visitar os parentes de João Pessoa, Acrísio economiza o dinheirinho da aposentadoria e vai, ao menos uma vez no ano, visitar a parentada que mora em São Paulo.
Na semana passada, Acrísio voltava da capital paulista em um voo da empresa aérea Gol e, logo após a decolagem escutou uns latidos. Concentrou-se mais e, curioso, chamou uma das comissárias de bordo. E perguntou:
– Moça, por favor, isso é latido de cachorro ou estou enganado?
– Não, senhor, é um cachorrinho que está lá na frente, trazido por sua dona – respondeu a comissária.
– E é permitido isso? – indagou o perplexo passageiro.
– Agora é permitido, senhor. Apenas dois animais de pequeno porte em cada voo – completou a educada comissária.
Acrísio agradeceu e tentou dormir um pouco. Meia hora depois foi despertado pelo aviso do comandante (Senhores, observem o aviso de apertar os cincos, pois estamos atravessando uma zona de turbulência). Além do receio natural que Acrísio demonstrava com as turbulências, os latidos do cãozinho aumentaram. A cada sacudidela da aeronave, o cachorro latia mais.
– Adeus meu soninho – disse Acrísio à sua vizinha de poltrona.
– Acho isso um absurdo – disse a companheira de voo. A gente fica incomodada com choro de criança nos aviões mas compreende. Agora, tolerar latido de cachorro numa altura dessas…
Acrísio tentou cochilar, a vizinha de poltrona também, mas a junção de barulhos com os latidos do cão os incomodava. Chamou de novo a comissária. Quando os sacolejos cessaram, a aeromoça prontamente atendeu:
– Pois não, senhores.
– Minha jovem, não tem um jeito de calar esse cachorro? – perguntou Acrísio.
– Infelizmente não, senhor. Só se a dona do cão administrar um calmante nele – sentenciou a comissária.
– Pois lhe digo, ponderou o passageiro incomodado, que seria melhor colocarem aviões só para transportar animais. Estes, hoje, são mais bem tratados do que nós idosos. E veja, moça, que tenho 75 anos.
Outros passageiros começaram a protestar contra os latidos do animal e emprestaram apoio a Acrísio e à sua vizinha de poltrona. A comissária chamou o chefe de cabine e comunicou o ocorrido. Este último dirigiu-se à cabine do comandante e depois de alguns minutos de silêncio, os microfones foram ligados.
– Atenção, senhores passageiros, diante dos incômodos causados pelo transporte de um animal neste voo, quero esclarecer o seguinte: o transporte aéreo de animais pela Gol pode ser feito como carga ou como bagagem despachada (desde que esteja acompanhada do passageiro). Cães e gatos com peso de até 30 kg podem viajar como bagagem em voos da GOL se cumprirem os requisitos da companhia aérea. A Gollog embarca apenas dois animais por voo. O animal deve estar em embalagem apropriada, identificada com o nome, endereço e telefone do remetente e do destinatário. Cachorros de grande porte ou ferozes só são aceitos em embalagens que garantam a segurança durante todo o transporte e o manuseio Uma declaração de responsabilidade do cliente remetente deve ser preenchida no ato da entrega do animal no Terminal de Cargas. Documentos necessários para voos domésticos: atestado sanitário (válido por 10 dias após a data de emissão) e carteira de vacinação (obrigatória para animais a partir de três meses de idade).
Acrísio olhou para os passageiros próximos e disparou:
– E a gente, nessa idade, pensa que já viu tudo…