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Luiz Dellore

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25/02/2021

Neste texto, a professora Larissa Basso trato do que significa “estudar fora” sob outra perspectiva: não a respeito do Direito em si, mas a respeito do que estar fora de nosso país significa para nós e nosso crescimento pessoal. Vale a reflexão, e quem sabe a experiência dela seja o estímulo que falta para sua tentativa de ir para o exterior.

Boa leitura,

Dellore


por Larissa Basso*

Minha vontade de estudar fora vem da infância. Cresci em uma cidade pequena, e desde criança tinha curiosidade de saber como era o mundo que aparecia na televisão. Quando mudamos para São Paulo, ficava impressionada com as histórias de colegas que tinham passado férias no exterior ou saíam para fazer intercâmbio. Ao longo da graduação e do mestrado, tentei várias bolsas para cursar parte do programa no exterior, mas nunca tive sucesso. Depois de várias tentativas e quase trinta anos de vida, parecia que não era pra ser.

Incentivada pelo meu chefe na época, resolvi fazer uma última tentativa. Para minha surpresa, essa deu certo. Desde então, são quase dez anos divididos entre períodos no Brasil e períodos no exterior; já passei por Inglaterra, França, Estados Unidos e agora estou na Suécia. A cada experiência aprendo muito, não só do ponto de vista intelectual, mas também sobre o Brasil e o mundo e, principalmente, sobre mim.

A vantagem de ir morar fora mais velho/a é que a gente já teve tempo de enfrentar dificuldades e adquiriu um pouco de jogo de cintura para se adaptar. É mais provável que também tenhamos aprendido a manter o humor mesmo em situações desconfortáveis – o que vai acontecer bastante ao lidar com o dia a dia em um novo lugar! Foi ao mercado e comprou o ingrediente seguindo o Google Translator; depois chegou em casa e viu que não era o que pensava? Toca pesquisar o que dá pra fazer com a novidade! Colocou a roupa na secadora e acabou encolhendo? É, agora ler as etiquetas antes de saber a temperatura de lavar e se pode colocar na secadora é fundamental.

E como lidar, no inverno, com as pias que têm não apenas dois registros, mas também torneiras diferentes para água quente e água fria (na primeira você queima a mão e na segunda congela)? Nova função para a velha bacia!

Outra coisa boa é que, mais velhos/as, normalmente já temos uma ideia melhor de como usar alguns traços da cultura brasileira a nosso favor. A frase é clichê, mas me descobri brasileira quando fui morar fora.

Sabe aquela história que brasileiro/a não tem uma cara definida? Pois é, é verdade. Mas depois de morar fora a gente aprende a reconhecer um/a conterrâneo/a, porque temos nós também nossas peculiaridades. Em geral, o/as brasileiro/as são abertos ao novo, gostam de experiências novas e têm habilidade em se comunicar com os outros.

Então, em situações em que essas características são importantes para a adaptação, como quando estamos em um outro país, normalmente nos saímos bem.

Além disso, morar fora também acelera a reflexão pessoal em que geralmente já embarcamos depois de certa idade. Ninguém vive a mesma experiência, mas todo mundo que já foi conta como voltou diferente. É verdade. No pacote de lidar com outros costumes, trejeitos e preconceitos, passamos a perceber os nossos – e, muitas vezes, a questioná-los. Isso, por si só, já é muito válido. Muitas vezes, porém, vamos além e incorporamos novos costumes ou valores.

Esse processo é orgânico, mas não sem as – muitas – dificuldades e incômodos. Eu considero esse processo acelerado de crescimento pessoal, sem dúvida, um dos maiores ganhos de viver em outros cantos, pois me ajudou a enfrentar questões que talvez eu demorasse muitas décadas para perceber caso não tivesse saído da minha zona de conforto.

Enfim, a quem tiver interesse em tentar, recomendo, sim, morar fora. Mesmo que já ache que “o tempo certo passou”, como era o meu caso. Se tem vontade, tente, porque vai valer a pena. Além de adquirir conhecimento intelectual e ganhar novas habilidades, sua percepção sobre si mesmo/a e sobre o outro vai mudar.

Você vai conhecer pessoas de outras culturas e aprender sobre suas lutas; você vai questionar suas crenças e valores, e provavelmente passar a fazer algumas coisas de modo diferente. Acima de tudo, vai entender na pele que apesar de sermos tão diferentes no fundo somos todos iguais.

Em tempos de ódio e desentendimento crescentes e generalizados, qualquer experiência que contribua para aumentar o entendimento e o diálogo tem valor em si, pois traz em si a semente de um futuro mais humano e mais fraterno.


*LARISSA BASSO –  bacharel em Direito pela USP, doutora em Relações Internacionais pela UnB e concluiu pós-doutorado na Universidade de Estocolmo.

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