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Brasil, país do futuro
Sacha Calmon Navarro Coêlho
17/10/2017
Somos um país desigual e ainda deseducado, o que complica, significativamente, o projeto nacional de crescimento justo nos marcos do regime capitalista.
Sempre tivemos essa percepção e sempre adiamos o dia da chegada, apesar de já sermos a 8ª economia do mundo desde o fim da ditadura militar, tanto pelo critério referido ao dólar, tanto pelo critério do poder de compra da moeda local. A noção do PIB bruto e PIB per capita são instrutivas. O PIB em si expressa os valores econômicos equivalentes à quantidade de bens e serviços que um país produz por ano, e o PIB per capita é esse valor dividido pelo número dos residentes no país, seus habitantes. É intuitivo que quanto mais desigualdades há numa nação, maiores nacos do PIB serão abocanhados pelos mais ricos e escolarizados.
Somos um país desigual e ainda deseducado, o que complica, significativamente, o projeto nacional de crescimento justo nos marcos do regime capitalista. Um exemplo basta. Se aumentarmos muito os impostos sobre o capital e a renda dos mais ricos, como quer a esquerda, prejudicamos o investimento, pois somente eles detêm capitais e renda. A União e os estados amargam grandes déficits primários. Adiantaria repassar para os mais pobres o excedente tributário? Eles continuariam pobres e deseducados. E, por sermos muitos (208 milhões), teriam apenas um aumento modesto na renda disponível para comprar mais bens e serviços, sem que o comércio e a indústria cresçam, pois existe “capacidade ociosa” no setor produtivo. Para atender ao aumento do consumo bastaria eliminar a ociosidade sistêmica, hoje por volta de 28% da capacidade instalada. Fica tudo do mesmo tamanho (crescimento ilusório).
Por suposto, não falamos em socialismo, ideologia falida. Há hoje dois países socialistas e estão estancados: Cuba e Coreia do Norte. Não há como falar em socialismo comunista, governo onipotente, tudo pertencendo ao Estado, exceto os bens de uso e consumo (casa, roupa, …).
A luta ideológica no Brasil é bem ridícula. Dá-se entre os que querem o capitalismo, direitos sociais e democracia e aqueloutros que lutam pelo Estado que intervém na economia e se superlota de estatais ineficientes (cabides de empregos). É como pensam o PT, o PCDB, o PSTU, o Partido Operário, o PSOL e largos setores do PMDB, ao argumento de que o Estado deve empurrar o crescimento e reduzir as desigualdades. O PSDB e o DEM se colocam mais ao centro, mas sem convicções capitalistas genuínas, tolerando o Estado grande para empregar pessoas e tirar dinheiro da máquina pública.
É esse ambiente de água mole que tem atrasado o Brasil desde a proclamação da República, pois só começamos a ser um país com a “inversão colonial”. Com a chegada de D. João VI, o império português passou a ser governado do Brasil. O Rio tornou-se a sede da corte lusitana. A colônia brasileira governava a metrópole e o resto das colônias: na Índia (Goa, Damão e Diu), África (Madeira, Açores, Guiné Cabinda, Angola e Moçambique) e China (Macau), além de vários entrepostos em ilhas e portos.
Antes da vinda da corte não podíamos comerciar com o resto do mundo, só com Portugal. Não podíamos ter fábricas, nem fazer estradas ligando o país, ao contrário dos EUA, pois não fora a Inglaterra que criara as 13 pequenas colônias da costa Leste, exceto uma. Bem que Londres tentou fazer o mesmo que Portugal, mas os colonos se recusaram e, no limite, foi por causa do chá, uma beberagem, que a libertação das colônias americanas começou (Guerra da Independência).
De 1806 a 2017, dois séculos se passaram, sendo que o Brasil e os EUA, naquela época, tinham PIBs parecidos. Mas lá, ainda nos anos setecentos, explodiu a libertação e com ela a República e depois a federação. Aqui, somente em 1822 viramos nação soberana, paradoxalmente por ato de ofício do príncipe português. Com D. Pedro I veio nossa independência, mas garantindo a monarquia e a burguesia comercial portuguesa que, associada aos antigos senhores de terra do Nordeste açucareiro e do Vale do Paraíba e São Paulo, mantiveram seus privilégios intactos. O resultado foi ruim. Quando da proclamação da República, no final do século 19, cerca de 94% da população era analfabeta…
A Primeira República continuou o panorama: um país imenso, populações dispersas, muitas riquezas inexploradas e pequenas elites de burgueses, donos de terras e profissionais liberais, sem projeto de nação. Somente em 1930, pois o comércio crescera desde a abertura dos portos, com a exploração do café e a vinda de colonos europeus o país se modernizou. A cultura do café ensejou a industrialização de produtos leves, têxteis e objetos de uso. O Brasil se põe de pé.
Agora é de se perguntar: 2018 está aí, não está na hora de irrompermos?. O ministro Meirelles entregará o país crescendo a 3%, com o governo obrigado a respeitar o teto dos gastos, com baixa inflação (2%) e taxa de juros de 7%. Temos um projeto nacional? Algum partido o tem? Estamos aguardando. Mas aviso que há um novo partido na praça, o Partido Novo (ou o Partido do Novo). Esse tem um projeto nacional.
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