32
Ínicio
>
Dicas
>
Português Jurídico
DICAS
PORTUGUÊS JURÍDICO
O burro bem informado
Adriano Alves
01/03/2016
O Connar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), atendendo a reclamações de pais, abriu processo para julgar campanha do Banco Itaú. Tudo por causa de um “digitau”, com “u”. Confira a propaganda! Dê uma olhada no YouTube!
Nesse caso, a instituição estaria ensinando errado e, por isso, contribuindo para a deseducação reinante.
Perdão, senhores! Não é nada disso! Aliás, é preciso ter receio dessas pessoas que, cegamente, obedecem às regras; isso pode ser privação de raciocínio, incapacidade de perceber o que vai além do memorizável. Pessoas assim, certas de tudo, pseudointelectualizam-se e proclamam guerra ao que acham errado.
Aliás, está aí a doença que mais emburrece: achar o outro errado antes de pensar.
Há crianças candidatas a adultos estúpidos porque não acreditam que o sol possa ser maior do que a terra. Posso cobri-lo com minha mão, pensam.
Outras crianças, porque veem além dos olhos, acreditam na professora; elas sabem que, muitas vezes, é preciso duvidar da experiência imediata.
Nunca conheci um habitante da Mongólia. Isso não quer dizer que eles não existam.
Sei que “digital” é assim, com “l”, mas, ao mesmo tempo, acho que o banco teve motivos para escrever com “u”. Chamar o outro de burro seria burrice minha! O outro é, sim, inteligente; provavelmente, mais do que eu.
É claro! Você, sabido como é, entendeu que Digitau é Digital + Itaú; então Digitau seria o Digital do Itaú. Evidentemente, trata-se de um neologismo, de uma palavra inventada; nessa criativa invenção, utilizou-se a composição por aglutinação; nela, dois ou mais radicais fundem-se em uma mesma palavra, provocando perda de fonemas; outros poderiam dizer que, aqui, a aglutinação foi muito violenta, configurando, uma Palavra Centauro, como em Grenal: Grêmio + Internacional.
De qualquer jeito, é preciso conviver com a língua para poetizá-la; só quem conhece a regra tem o direito de desobedecer-lhe com estilo.
Não, não estou dizendo que não seja preciso saber as regras; sou professor de Língua Portuguesa. O que quero dizer é o seguinte: quem conhece a língua sabe nutrir-se dela ou reinventá-la, se for preciso; que o modernista Guimarães Rosa me defenda. Aqueles que, sempre, o tempo todo, só obedecem, são apenas medíocres instruídos.
É evidente que muitas situações profissionais exigem o cuidado formal da língua, mas, não se esqueça, estamos falando de um comercial que se permitiu utilizar uma linguagem criativa. Além do mais, no vídeo, vozes de crianças cantam uma música que faz referência ao fato de este “Digitau” ser com “u”; ou seja, se a propaganda faz referência à grafia utilizada, é claro que o desvio foi intencional, metalinguístico.
Criatividade! Uma das palavras preferidas do bom marketing.
Agora mesmo, lembro-me de um fotógrafo que produz álbuns de crianças; ele já possui certa idade; é o estereótipo do avô!
Na 5ª avenida, em Goiânia, está lá a fachada: “Jahyr Vôtógrafo!”, com foto do velhinho e tudo. Viu? Até a velhice pode ser marqueteira.
Veja também:
- Etnia
- Mamãe
- Informativo de Legislação Federal: resumo diário das principais movimentações legislativas.
Conheça as obras do autor (Clique aqui!)