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Direito & Justiça n. 26

Fernando Antônio de Vasconcelos

Fernando Antônio de Vasconcelos

01/07/2016

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Tolices de um professor

Sou professor há quarenta e quatro anos. Minha mãe era professora estadual e minha filha é professora universitária. Portanto, tenho tudo para só elogiar a atividade de professor. Mas o Professor Álvaro de Azevedo Gonzaga, que é Pós-Doutor pelas Faculdades de Direito da Universidade Clássica de Lisboa e da Universidade de Coimbra escreveu, recentemente, um artigo deveras inusitado: “Tolices de professor: o risco da docência é se apaixonar pela própria voz”.

Conta que assistiu a uma fantástica palestra de outro colega, professor e amigo, elogiando seu orientando por ocasião do lançamento de sua tese de doutoramento. Ali viu o orgulho de um professor ver seu aluno brilhar! Em oposição a este ato de generosidade, entende que “vivemos a era da arrogância, da ignorância e até mesmo da truculência”. As pessoas esvaziam-se em palavras que aparentam saber, mas muitas vezes escondem o medo e a insegurança daqueles que pouco sabem.

A grande educadora: Ausonia Donato ensinou que existem, basicamente, dois tipos de professores e um de educador:

a) o professor que ensina tudo, inclusive o que não sabe. Trata-se de professores inseguros, muitos no começo da carreira, que julgam que jamais podem deixar um aluno sem resposta, mesmo que esta seja errada, por mais que o discente não perceba;

b) o professor que ensina tudo o que sabe. Este costuma ser aquele professor, que ou porque não sabe tanto, ou porque não sabe o que ensinar, fala tudo para se “aliviar” ou deixar sua consciência “leve” de ter trabalhado todo conteúdo;

c) o educador que ensina o necessário. Este é o docente que, ao ter a tranquilidade de ensinar, ensina mais que conteúdos, ensina a raciocinar a refletir, não a repetir. Pode ser também o professor que calcule o que o aluno precisa naquele momento, isso mostra maturidade.

A experiência

Para o citado mestre, existem professores palavrosos, que falam muito, mas exprimem pouco. Valorizam o pouco que sabem e subordinam seus alunos ao exposto como se o mundo tivesse como limite seus saberes. Cuidado com esse tipo de docente! Muitas vezes leciona por vaidade. Se o limite do conhecimento fosse o saber de um professor, significa que todo saber seria limitado a jamais expandir pela mesquinhez daqueles que não admitem a superação de alguém.

De tudo isso, concluo que sou um pouco de educador e professor. Penso que todos somos professores que almejam ser educadores. Busco e torço para ver meus alunos nas melhores posições. E expresso alegria quando encontro um ex-aluno advogado, juiz, promotor ou professor. Orgulho-me muito de ver meus alunos brilhando na vida profissional. Só posso dizer ao ilustre professor português que ainda não me decepcionei com a carreira, pois não me acho tolo, prepotente ou arrogante. A sala de aula é, para mim, uma festa permanente.


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